Editorial Novembro 2017

Desenvolvimento Sustentável, agora e sempre, depende de todos

Em algum lugar numa trilha da chapada diamantina (BA).(Foto: Denis JULIEN / RHIOS)

Quando o termo desenvolvimento foi apresentado como uma ‘alternativa’ ao termo crescimento para sinalizar indicadores econômicos de uma determinada sociedade, observou-se a insuficiência do Produto Interno Bruto (PIB) como parâmetro de análise de condições de vida de um povo. Verificava-se assim que a riqueza gerada medida pelo PIB em sua forma agregada, não implicava necessariamente em uma distribuição equilibrada que assegurasse níveis mínimos de renda, saúde e educação para toda a população.

Com o passar dos anos, consolidadas as diferenças entre os termos, embora ainda eventualmente usados como sinônimos, ajuntou-se ao mesmo a expressão sustentável, indicando que não mais bastava uma equilibrada repartição dos recursos, fazendo-se necessário que a mesma, ocorrendo agora, não impossibilitasse as condições para sua ocorrência também nas gerações futuras.

Com o termo Desenvolvimento Sustentável evidenciou-se também a necessidade de maior atenção aos recursos naturais exauríveis e renováveis. Os primeiros, pela sua possível exaustão, demandam um uso mais eficiente que pode ser provido pelo avanço tecnológico e pela maior racionalidade no uso. Os segundos por sua vez, são frequentemente observados com menos atenção, tendo a possibilidade de renovação como um argumento que paradoxalmente desfavorece a sua gestão. Nesse contexto, observa-se com maior atenção o petróleo e o gás, em detrimento da água.

Essa distorção nas atenções se reflete não apenas nas decisões políticas e de mercado, mas também no âmbito social, acadêmico e cultural das sociedades. Recursos naturais tradicionalmente comercializados e precificados, há tempos incorporados ao processo produtivo, foram objeto de estudo para desenvolvimento de métodos, metodologias, técnicas e tecnologias que aprimorassem a eficiência do seu uso. Petróleo, gás, ferro, aço, ouro, diamante, vanádio, nióbio, urânio, entre tantos outros se enquadram nesse grupo. Ar e água, por sua vez, encontram-se em situação significativamente distinta.

O alerta relacionado os recursos renováveis trouxe consigo a marca do ambientalismo, sendo seus defensores e teóricos inicialmente estigmatizados como defensores de plantas e animais em detrimento dos demais seres humanos. A recorrência de eventos climáticos distintos em diversas partes do planeta se apresentaram então como questionamento a esses pré-conceitos e a sustentabilidade passou a ser também objeto de precificação.

Desenvolvem-se assim metodologias de avaliação de impactos de desastres/acidentes/crimes ambientais e técnicas e métodos de valoração ambiental aparentemente em consonância com as preocupações ambientalistas. Diante do labiríntico processo de difusão e aplicação das mesmas, por distintas razões que incluem fatores políticos e econômicos, observa-se agora a inovação tecnológica como a possível tábua de salvação. Paradoxalmente, deixa de ser considerado que são também as inovações tecnológicas elementos de transformação que por vezes retardam necessárias mudanças de paradigmas.

Dessa mixórdia resulta que a complexidade do desenvolvimento sustentável não reside apenas em conhecimentos científicos desta ou daquela área de conhecimento. O seu entendimento e implantação perpassa pelo altruísmo quanto às gerações futuras, ao tempo em que conjuga os diversos elementos do meio ambiente, aqui entendido em seu conceito mais amplo, orientados pela racionalidade humana e seus mais diversos saberes. O comprometimento não equilibrado ou cientificamente enviesado certamente ocasionará novas distorções. Contudo, alerta-se que em se tratando de ar e água, o que está em questão não é o bem viver, mas sim o simples viver.

Telma Teixeira.
RHIOS
Novembro 2017

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