(texto em resposta ao Em questão : “USOS MÚLTIPLOS E CONFLITOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS“)
O exemplo fictício em estudo ilustra as típicas repercussões da ação antrópica sobre um ecossistema local, que, neste caso, decorrem de ações insuficientes quanto ao planejamento infraestrutural em torno de uma bacia hidrográfica. Do relato, é possível remeter, ainda, aos inúmeros problemas relacionados à criação de matrizes energéticas eficientes, que beneficiem o processo de desenvolvimento econômico através de vias menos nocivas ao meio natural.
Focalizando a representatividade do meio ambiente nesta dicotômica problemática, nota-se sua observável centralidade, posto que todos os processos se desdobram sobre um nicho ecológico que o integra e, demais disso, figura como o epicentro de impactos. Precisamente, desempenharia, a um só tempo, dois papéis: inequívoca e primeiramente, o papel passivo, enquanto alvo da ação antrópica modificadora; e, em seguida, o de agente refletor das mudanças que lhe foram infligidas.
O cenário inicial, é importante considerar, põe em relevo os aspectos positivos associados a um ambiente que, apesar das diminutas interferências artificiais sobre a dinâmica natural aquífera – como a pequena atividade piscicultora desenvolvida pelos protagonistas, André e Pedro – permite o amplo e harmonioso usufruto das condições estáveis predominantes. Até então, o pretenso equilíbrio do quadro de relações ecológicas não impõe aos indivíduos e instituições o envolvimento nos dilemas vindouros, decorrentes da construção da barragem; todos encontram-se em um estado de mútua vantagem.
Entrementes, dadas as alterações maiores que se processam após a implementação da usina hidrelétrica, o quadro geral do meio ambiente, tomando o rio por ponto de partida, passa por redefinições, cujos desdobramentos demográficos, climatológicos e ecológicos, ao interagirem com mecanismos exógenos, precipitam-se em fenômenos críticos. Com isso, as consequências máximas, que inevitavelmente afetam os segmentos econômicos dessa pequena sociedade, são: redução drástica da disponibilidade hídrica da bacia, com conseguinte retração do potencial hidrelétrico da usina (preponderante para funcionamento da economia), contaminação por ausência de sistema de saneamento que assista as comunidades ribeirinhas, degradação da flora local, entre outros efeitos daninhos.
Da ação primária desta cadeia de transformações, portanto, suscita o efeito cumulativo de eventos negativos, os quais, novamente apontam para a posição invasiva do agente econômico quanto ao ambiente natural (substrato de toda a atividade humana), que por sua vez responde em dimensões não calculadas. Paradoxalmente, evidencia-se também a dependência do ser humano em relação ao ambiente natural que o cerca, não apenas enquanto agente econômico, mas também enquanto agente social.
Por fim, todo o processo torna premente a adoção de medidas não apenas remediadoras, mas que, efetivamente, também proporcionem melhorias para a relação binária homem-natureza, ainda que não representem total restauração da situação ecológica inicial. (acessar o texto em PDF)
Renata Amorim e Felipe Farias Graduandos em Economia na UEFS. Pesquisadores do RHIOS.
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