GESTÃO DAS ÁGUAS NA AGRICULTURA IRRIGADA

Christofidis, Demetrios. Água, irrigação e agropecuária sustentável. Revista de Política Agrícola; Ano XXII – No 1 – Jan./Fev./Mar. 2013.

A correlação entre o crescimento exponencial da população humana e o descompasso do processo de provimento alimentício, de que tratou Thomas Malthus em seu trabalho An Essay on the Principle of Population as it affects the Future Improvement of Society (1798), desvela a necessidade de se pensar e investir em meios corretos de lidar com a condição exaurível dos diversos recursos naturais. Com essa preocupação, situado no espectro de planos de preservação das capacidades hídricas no âmbito da agricultura, o Engenheiro Civil e Doutor em Gestão Ambiental Pela UnB, Demetrios Christofidis, no artigo Água, irrigação e agropecuária sustentável tenta explicar como a agricultura irrigada aparece nesse cenário.

Prosseguindo nesta linha, ao explorar problemas emergenciais, como o flagelo social que as crises de insegurança alimentar podem representar em escala global, Christófidis desenvolve uma meticulosa abordagem em volta das políticas de expansão produtiva da agricultura sustentável, cogitada como uma via para solver as algumas questões inevitavelmente levantadas quando se trata de crescimento populacional. Neste sentido, o autor defende a crescente implementação da agricultura de irrigação sustentável como um recurso sistêmico aplicável para atender, antes de quaisquer outras necessidades universais, a futura demanda alimentícia mundial, estimada por Bruinsma (2009) em 50% para 2030 e 70% para 2050. A ampliação dessa demanda ocasionará um considerável aumento da exploração de capacidades hídricas e potencialização da produção de energia, posto que para o correspondente desenvolvimento produtivo de alimentos é imperiosa a intensificação do uso de energia e água.

Em descrições reduzidas, são esses alguns dos principais meandros através dos quais a pesquisa em análise foi conduzida. Precisamente, o objetivo central a que se volta o texto seria a otimização do uso da água por meio da gestão sustentável e a elevação da produtividade nas práticas agrícolas irrigadas, seja pelo método de aspersão (que integra dispositivos como carretel, enroladores etc.) ou irrigação localizada (microaspersão, gotejamento e outros mecanismos).

A explicitação fora executada através de duas escalas de observação: primeiramente Christofidis pôs sob foco aspectos globais da questão e, em seguida, visualiza o caso Brasileiro e sua relevância nos processos de ampliação do desenvolvimento sustentável. Aqui, a investigação é particionada em 3 tópicos que consideram: os desdobramentos gerais do uso da água na agroindústria e em outros setores; conceitos específicos, como uma breve tipologia dos tipos de escassez hídrica e; a expansão agropecuária no País. O autor conclui com uma relação dos métodos efetivos para a execução de uma produção sustentável, isto é, que minimize consumo e perdas de água na agricultura.

Tomando como ponto de partida para o ciclo hidrológico a precipitação anual, parte dessa água serve para a recarga de aquíferos subterrâneo e corpos d’água (água azul equivalente à 40%), enquanto a outra parcela é retida pelo solo, evaporada ou incorporada pelos organismos (água verde). É a “água azul” o objeto que integra-se tradicionalmente à gestão dos recursos hídricos viabilizando os diversos usos consuntivos, entre os quais destacam-se as atividades agrícolas, responsável por 70,2% da parcela consumida.

Quanto às classificações dos diferentes tipos de escassez hídrica, tem-se que estas são identificadas consoante “traços” da dinâmica natural que propicia a disponibilidade hídrica, da qualidade e da quantidade da água. Isto significa que são dadas, respectivamente, a escassez associada à dinâmica, escassez qualitativa e escassez quantitativa. Além disso, no que se refere aos níveis de disponibilidade locais, de acordo com o volume, é possível observar as circunstâncias de Suficiência (acima de 4.650 m3 / hab.-ano), Alerta de escassez hídrica e Escassez crônica (1000 m3 / hab.-ano). Com esses pontos, é sugerida a importância de se levar em conta os determinantes e os diversos aspectos dos fenômenos críticos de escassez na elaboração de planos de gestão de recursos hídricos no âmbito da agroindústria.

Desse modo, tendo em vista a proposição da Rio-92 de minorar o problema da fome com o provimento de alimentos através da agricultura intensivo-sustentável(1), o autor faz um retrospecto sobre o percurso evolutivo de adesão aos métodos de irrigação em áreas de culturas rurais no Brasil, durante um intervalo que tem início em 1950 (quando se verificava um tímido progresso dessa modalidade de estrutura produtiva) e se estende até 2010/2012. É, talvez, neste ponto da análise que se torna mais perceptível a tentativa de Christofidis de demonstrar a importância da produção brasileira no cenário mundial. Um dado que confirma esse otimismo seria o potencial de ampliação da cobertura irrigada que, de acordo com estudos realizados pelo MMA/SRH/DDH, beira a casa dos 30.000 hectares, numa estimativa de 1999.

Ademais, há que se considerar que embora seja verificado um grande volume da produção de grãos no Brasil em 1990 – de 57.903 toneladas, registrando uma produtividade de 1.528 k/ha na safra 1990-1991 – informações constantes de Cadastros do Proine/Prone e de estudos específicos, sugerem que em 1998, observou-se uma perda de 35% da derivação da água que seria destinada à irrigação. Contudo, essa ineficiência, associada aos dispositivos de condução e captação, viria a diminuir com modificações técnicas e do manejo nos 12 anos que se seguiram, resultando em melhorias no uso da água já em 2010. Assim, conforme indicam os dados da CONAB/2003, a safra 2011-2012, que somou 166.172,1 toneladas de grãos, esboça um resultado positivo que advém da otimização do uso hídrico.

A confrontação dos dados atinentes à produção-produtividade brasileira no setor, entre as safras 1990-1991 e 2011-2012, em associação com a série 1950-2010 construída por Christofidis, sustenta sua ideia de que o aprimoramento das técnicas produtivas na agricultura irrigada, visando a redução de desperdício hídrico e minimização dos impactos ambientais atrelados ao uso ineficiente desse recurso, não apenas promovem a maximização do aproveitamento de insumos, como também condicionam a preservação dos elementos naturais essenciais ao processo produtivo.

Por fim, dos trechos concludentes se pode inferir que, com a adesão às propostas da Agenda 21 e de órgãos como a Agência Nacional de Águas, a solução para os problemas prepostos perpassaria a gestão sustentável das águas na agricultura, priorizando e conciliando avanço tecnológico e ciclos hidrológicos de cada região, pois as diferenças ecossistêmicas requerem tratamento específico.
Dessa forma a reconfiguração das práticas agrícolas além de estar centrada em aspectos técnico-estruturais, deve priorizar a participação dos proprietários das unidades produtivas e dos membros dos comitês gestores, nas limitações das bacias em que as atividades ocorrem para que, efetivamente, as medidas a serem adotadas sejam factíveis e a produção sustentável no Brasil possa corresponder às expectativas otimistas então demonstradas.(acesso ao artigo em pdf)
(1) O programa em alusão é o Água para Produção de Alimentos e Desenvolvimento Rural Sustentável, Agenda 21

Renata Amorim
Graduanda em Economia na UEFS. 
Pesquisadora do RHIOS.
2017/08

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Referências Adicionais Consultadas

  • Agência Embrapa de Desenvolvimento Tecnológico. Sistemas de Cultivo. Endereço: www.agencia.cnptia.embrapa.br . Consultado em: 15/09/2017.
  • Agenda 21 Brasileira – Resultado da Consulta Nacional. Agricultura sustentável; p. 59, Brasília 2002;. Consultado em: 15/09/2017.
  •  Ecologia dos Humanos. A Ecologia das Populações Humanas: Thomas Malthus. Endereço: www.ib.usp.br/evosite/history/humanecol.html; Consultado em: 15/09/2017.
  •  Portal Brasil. Economia e Emprego. Agricultura irrigada é uma das prioridades entre ações para o setor agrícola. Endereço: www.brasil.gov.br. Consultado em: 15/09/2017