Economia. Meio ambiente. Sensos e Contrassensos
Nos idos do ano de 1951, em 13 de agosto, o presidente Getúlio Vargas sancionou a Lei 1.411 que criou a profissão do Economista e desde então na data passou a ser também comemorado o Dia do Economista. A definição clássica atribuída a ciência econômica a descreve como aquela que tem como objeto de estudo os usos alternativos de recursos escassos, observando processos e fenômenos históricos, institucionais, sociais, coletivos e individuais, em concomitância ou não, visando assim auxiliar na tomada de decisões.
Os fundamentos teóricos que auxiliam os estudos econômicos antecedem e muito a essa data, originando-se de forma sistematizada no século XVIII quando Adam Smith, considerado o pai da economia divulgou sua obra seminal An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, conhecido mais popularmente como A Riqueza das Nações. O trabalho de Smith deu então origem a inúmeras discussões fundamentalmente centradas em elementos como renda, classes sociais, relações de produção e justiça distributiva, entre outros, produzindo hipóteses, teorias, propostas e ideologias distintas e em muitos casos, divergentes entre si, por conta da percepção diferenciada das realidades e/ou dos temas.
Entre os mais diversos elementos conceituais e teóricos apresentados por Smith, destaca-se aqui a sua distinção entre valor de uso e valor de troca explicada a partir da comparação entre a água e o diamante, considerando em ambos a utilidade por um lado e o valor de mercado por outro. A analogia apresentada por Smith já havia sido também utilizada por Platão em 380 (a.C.) quando no diálogo Euthydemos descreveu a água como a melhor de todas as coisas embora a não raridade então constatada fizesse com que a mesma fosse também a mais barata.
Paradoxalmente, embora a água tenha sido elemento de observação em ambas as situações, ao longo de séculos os recursos naturais foram inúmeras vezes tratados apenas como “terra” nas diversas análises econômicas, criando assim uma percepção de que o meio ambiente poderia ser delimitado como um subsistema do sistema econômico. Tal visão pragmática, deturpada e minimalista fez surgir propostas de análise dos problemas ambientais como simples questões de alocação decorrentes da não precificação, reforçando assim o caráter do mercado como centro gerador de equilíbrio através de mecanismos de oferta e demanda.
Observa-se assim que a sensatez original foi desfocada ao longo dos anos adquirindo ares de absurdo quando já na primeira metade do século XX os rios eram caracterizados como um conveniente receptáculo para o lançamento de lixo, sendo a diluição de efluentes então vista como um uso legítimo dos corpos hídricos. Como resultado do uso desregrado e da total inobservância dos limites impostos pela natureza, enfrentamos atualmente a escassez qualitativa e/ou quantitativa de diversos recursos naturais. Nesse contexto, os estudos relacionados à Economia do Meio Ambiente que se consolidam nas academias são observados como inovadores e desafiadores em razão da temática apresentada e da complexidade multidisciplinar a eles inerente.
Dessa forma, resgatar o tema meio ambiente nas discussões econômicas implica em redefinir abordagens, métodos e teorias convencionais, contestando a partir de um olhar multidisciplinar convenções e costumes teoricamente estabelecidos. Mais do que isso, é repensar e ampliar o universo da análise econômica de forma a acompanhar como profissionais economistas as demandas apresentadas por uma sociedade em constante transformação. (acessar o texto)
Telma Teixeira. RHIOS Agosto 2017
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